terça-feira, 17 de maio de 2011

Reflita...

'' um ponto marcante na minha vida aconteceu um dia ,em que um trem nos subúrbios de Tóquio.era o meio de uma preguiçosa tarde de primavera e o vagão estava relativamente vazio- uma poucas donas de casa às compras junto com os filhos ,algumas mais pessoas idosas ,um par de garçons no dia de folga lendo resultado de corridas ,o vagão velho e barulhento estalava de uma maneiro monotoma sobre os trilhos ,enquanto eu espiava distraidamente as casas desbotadas e as sebes empoeiradas
numa pequena estação sonolenta,as portas se abriram e à tarde modorrenta Foi quebrada por um homem berrando a plenos pulmões .uma serie de violentas imprecações vibraram no ar.pouco antes das portas fecharem ,o homem,ainda gritando,entrou cambaleando no vagão.Era um enorme operário japonês,bêbado e imundo.Seus olhos injectados pareciam dois faróis vermelhos e sua face estava rubra de raiva e ódio.Gritando palavras inteligíveis ,avançou contra a primeira pessoa que viu -uma mulher segurando um bebe .O golpe pegou de raspão em seu ombro,mas a fez rodar pelo carro ate cair sobre um casal de idoso ,foi um milagre o bebe sair ileso.O casal se levantou num salto e fugiu para o outro lado do vagão .O trem seguia balançando,os passageiros mortos de medo.Fiquei em pé
Naquela época eu era jovem e estava em ótima forma.Tinha 1,83m de altura ,pesava 102kg e treinava 8 horas de aikido por dia ,há 3 anos.Eu estava totalmente obcecado pelo aikido ,não me cansava de praticar .Gostava principalmente dos treinos mais difíceis .O problema era que minha habilidade nunca havia sido testada numa luta de verdade.Éramos severamente proibidos de utilizar em publico as técnicas do aikido , a não ser se quando fosse absolutamente necessário defender outras pessoas .Meu mestre , o fundador do aikido ,nos ensinava todas as manhas que esta não era uma técnica violenta .''O aikido é a arte da reconciliação.Usa-lo para fortalecer o ego,ou para dominar outras pessoas ,é trair totalmente seu propósito .Nossa missão é solucionar conflitos e não gerá-los''.Eu escutei essas palavras por varias vezes essas palavras...
Meus pedido haviam sido atendidos .Pensei com meus botões:esse cafajeste ,animal,esta bêbado e violento .É uma ameaça e vai ferir alguém se eu não agir .A necessidade era real.Meu sinal de ética esta verde
Ao ver-me de pé ,o bêbado me fuzilou com os olhos ,gritando de ódio ,Fingi desinteresse ,olhei para ele com desprezo insolente.Ele era grande e mau,mas estava bêbado ,eu também era grande mas treinado e sóbrio.Ele se preparou pra vir pra cima d mim com muita força.Ele nunca iria saber o que o atingiria
Uma fracção de segundo antes de ele se mover e alguém gritou bem alto .''Ei''.Foi um som ensurdecedor ,mas com estranha alegria
Girei para esquerda e o bêbado para a direita .Nós 2vimos um velhinho um senhor minúsculo impecável em seu quimono.Ele não me deu nenhuma atenção ,mas sorriu alegremente para o operário , como se fosse dividir um segredo agradável e importante.
''vem cá,venha falar comigo'',chamou o velhinho .O bêbado o seguiu como se estivesse preso a um barbante ele ainda estava confuso,mas ainda agressivo .''o que você quer ser velho idiota ?'', ele perguntou rugindo mais alto que o barulho do trem .O bêbado agora estava de costas pra mim , eu podia ver seus cotovelos ,dobrados como se estivesse pronto para socar .Se eles se movessem um mililitro,eu o acertaria
O velho continuou a sorrir .Não havia nele nenhum fraco de raiva ou medo .
-o que você andou bebendo?
-estava bebendo saque seu porco sujo.O que você tem a ver com isso?
O velho deliciou-se - Oh isso é maravilhoso,é que eu adoro saque ,Toda noite eu e minha esposa ela tem 67 anos sabe?-aquecemos uma garrafinha de saque e levamos para o jardim ,onde sentamos no velho banco que um estudante do meu avo fez pra ele .Nós vemos o sol se por ,apreciamos o anoitecer junto da nossa árvore .Mesmo quando chove
Enquanto tentava seguir a intrincada conversa do velho a expressão do bêbado foi se atenuando.Seu punhos se abriram lentamente ....
-Eu também gosto de saque ...Sua voz foi diminuindo
-Sim estou certo de que sua mulher é maravilhosa .Sorriu o velho
- Não,eu não tenho mulher. Replicou tristemente o operário
E então com uma surpreendente suavidade começou a soluçar
- Eu não tenho esposa .Gemeu ritmicamente - Eu não tenho casa ,não tenho roupas, eu não tenho ferramentas, eu não tenho dinheiro e agora não tenho um lugar pra dormir .Estou tão envergonhado
Lágrimas rolavam pelo rosto do grandalhão e um espasmo de puro desespero sacudiu seu corpo .Acima do bagageiro um anuncio colorido exaltava as virtudes da vida luxuosa nos subúrbios de Tóquio .A ironia era quase insuportável me senti envergonhado.Senti-me mais sujo,nas minhas roupas limpas .
-Ora,ora .Sorriu o velhinho - É uma situação muito difícil .Por que não se senta aqui e me fala sobre isso?
Nesse momento o trem parou no meu ponto.Manobrando para sair ,olhei para trás pela ultima vez .O operário estava esparramado como um saco no banco ,com a cabeça no colo do velhinho .O ancião olhava para ele generosamente ,uma mistura de deleite e compaixão brilhando em seus olhos
uma das mãos acariciando a cabeça suja
Enquanto o trem saia da estação ,sentei-me num banco tentei reviver a experiência .Vi que preciso repensar meus conceitos.Vi o que eu estava preparado para conseguir com músculos e violência ,fora melhor ainda realizado com um sorriso e algumas palavras gentis ,com atenção e genuíno interesse pelo ''agressor-sofredor''



Por: JayneOliveira

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